Restos de Colecção: Companhia Previdente

23 de abril de 2014

Companhia Previdente

Tudo começou porque um rapaz com cerca de 18 anos, de nome Francisco José Simões, que em 1800 nasceu em Ferreira do Zêzere, decidiu rumar a Lisboa, e tentar a sua sorte. O facto de Portugal numa situação económica muito difícil, pelas sequelas das invasões francesas e da fuga da Corte e do Rei D. João VI para o Brasil, não impediu que  Francisco José Simões abrisse, em 1825, na Rua do Comércio nº 38, em Lisboa, uma casa de ferragens, com o seu nome, e mais tarde, em 1862, fundasse a sociedade “Indústrias Metálicas Previdente, Lda.”, com a família O’Neill.

Fábrica da “Indústrias Metálicas Previdente” na Rua do Instituto Industrial em Lisboa

 

 

“Companhia Previdente”, fundada em 1862, com a designação de “Indústrias Metálicas Previdente, Lda”, e posterioremnte como sociedade anónima SARL,  contando com 199 accionistas em 1907, é uma das mais antigas empresas industriais de Portugal. Com a expansão do grupo, este passou a abranger as mais antigas empresas em Portugal dedicada à indústria de pregaria, trefilaria e tubagem. A 10 de Novembro de 1917 adquire em Lisboa, a fábrica “Henrique Schalck”, situada no Campo de Santa Clara em Lisboa, que se dedicava ao fabrico de pregaria, botões metálicos, colchetes, etc,onde se manteve até ao início da década de 50. De referir que a indústria de pregaria era a mais mecanizada em Portugal, sendo as mais importantes a “Fábrica de Pregos de Joaquim Antunes dos Santos”, a “Perseverança”, a “Indústrias Metálicas Previdente, SARL”, e a “Henrique Schalck”.

1958

“Companhia Previdente” na Rua D. Luis I em Lisboa

Em 1947, António Carlos Simões e a famíla O’Neill, fundam em Sacavém a Companhia Portuguesa de Trefilaria, SARL que anos mais tarde viria a ser absorvida pela “Companhia Previdente”. Em 1948 a “Fábrica das Antas”, no Porto, já pertencia do universo da “Companhia Previdente”.

1934

Na comemoração do centenário da “Companhia Previdente”, foi inaugurada em 1962 a primeira fase das instalações fabris das “Indústrias Metálicas Previdente S.A.R.L.”, no Sobralinho, entre Alverca do Ribatejo e Alhandra,  a qual correspondeu a um momento de afirmação e expansão da empresa,e com a finalidade de aglutinar as unidades industriais e administrativas espalhadas pela zona de Lisboa. Nesta 1ª fase ainda não tinham sido construídas as secções administrativas e posto médico.

 

 

Esta unidade fabril da “Companhia Previdente” viria a ser inaugurada oficialmente em 30 de Junho de 1964, pelo Presidente da República Almirante Américo Thomaz.

30 de Junho de 1964

Em 1964 eram administradores da “Companhia Previdente” : Henrique Veiga Simões, Jorge O'Neill, José Manuel Simões, Freitas Simões, Joaquim Freitas Simões e Mário Costa. 

Entretanto a partir de meados dos anos 50 do século XX, a “Companhia Previdente” tinha desenvolvido um grupo que cresceu rapidamente com a entrada em novos negócios e tinha-se expandido internacionalmente. Tornou-se então um dos grupos portugueses mais importantes, com operações em Portugal, Espanha, Itália, Angola e Moçambique, abrangendo vários campos de actividade tais como arame de aço e seus derivados – posição dominante em Portugal –, mediação imobiliária, banca e seguros – Moçambique.

O complexo industrial, no Sobralinho, cuja construção teve início em 1957, foi da autoria do arquitecto Jorge Fernando Sotto-Mayor d’Almeida, sendo composto por três áreas funcionais distintas: portaria, serviços técnicos e administrativos; serviços sociais - balneários, refeitório, convívio; e, por fim, naves fabris oficinais distribuídas pelos seguinte sectores:

- Fabrico de redes;
- Fabrico de pregos e diversos artigos;
- Fabrico de artigos de chumbo e alumínio.

 

               

           

 

Esta unidade industrial que chegou a empregar cerca de 500 operários, foi encerrada em definitivo no ano 2000. Neste momento as instalações e terrenos desta unidade fabril, estão em fase de requalificação e criação do “Parque Urbano e Ambiental do Sobralinho”.

A actividade industrial actual do “Grupo Previdente” desenvolve-se essencialmente na produção e transformação de aços e alumínios através de processos de trefilagem e estampagem. Dedica-se também à comercialização destes ou outros produtos similares e outras actividades relacionadas.

 

 

 

A “Companhia Previdente” é actualmente controlada pelo grupo Espírito Santo e por António Simões, neto de António Carlos Simões que conduziu a empresa durante uma fase de rápido crescimento do negócio, tendo realizado um profundo trabalho de reestruturação, focando a sua actividade na produção e na comercialização de arame de aço. Durante este processo de reestruturação, a “Companhia Previdente” adquiriu a “Socitrel” (1989), a espanhola “Emesa-Trefileria” (2004) e as “Industrias Galycas” (2004).

Stand na “FIL - Feira das Indústrias de Lisboa” em 1957

 

Na última foto, pode-se observar no fundo do stand a maqueta da futura unidade industrial de Alverca (Sobralinho), que seria inaugurada, como referi em 1962.

Bibliografia: foi, também, consultado o projecto para obtenção do grau de mestre em Arquitectura, de Fábio Filipe Lavareda intitulado "Previdente - Projectar com o Lugar da Indústria" - Faculdade de Arquitectura (Nov. 2010)

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (estúdio Mário Novais)

4 comentários:

BRUNO disse...

A minha avó, Maria da Glória Gomes trabalhou mais de 30anos na previdente, tendo sido das ultimas pessoas a sair da fábrica quando esta fechou as portas definitivamente.. Uma grande fábrica cheia de história

Unknown disse...

Parabéns pela excelente publicação, impecavelmente documentada e ilustrada.
O complexo fabril das Indústrias Previdente consiste num caso de Arquitectura Industrial de referência que deveria constituir Património Industrial.
Resta-me agradecer a referência ao meu Projecto Final de Mestrado. A escolha do tema não foi, de todo, inocente, na medida em que nos anos 80 frequentei a creche que fazia parte das valências do conjunto.

Fábio Lavareda

José Leite disse...

Caro Fábio Lavareda

Não fiz mais que a minha obrigação, já que considero trabalhos como teses de doutoramento e mestrado, dignos de admiração e que infelizmente passam "ao lado" de toda a gente.

Os meus cumprimentos
José Leite

Carlos Ademar disse...

Muito obrigado pelo informativo e documentado post. Com a devida vénia e os respectivos créditos, usarei alguma da informação aqui vertida numa investigação em curso sobre a Quinta do Bom Sucesso, em Loures, de que António Carlos Simões foi proprietário desde os anos 20 até falecer. Muito obrigado. Carlos Ademar